Notícias
Recortes da Inovação: Síndrome de Burnout
Última modificação: 26/04/2021 | 14h30

“Recortes da Inovação" é uma iniciativa do Centro Cultural do Ministério da Saúde (CCMS) para estimular o compartilhamento de informações e experiências sobre inovação, criatividade e cultura. No oitavo artigo da série, Edno e Bianca mostram como o contexto atual da pandemia da Covid-19 tornou, para muitos, o ambiente de trabalho ainda mais estressante e como isso pode se refletir em problemas de saúde mental para você e sua equipe.
Cansaço mental. Falta de concentração. Insônia. Tristeza recorrente. Desânimo. Falta de libido. Desesperança. Pessimismo. Insegurança... O que essas palavras, que poderiam estar numa versão moderna da música “O Pulso”, da banda Titãs, têm a ver com inovação? Não podemos nos esquecer do óbvio: uma equipe é formada por pessoas e para que o trabalho seja prazeroso, eficiente e inovador é fundamental que todos estejam saudáveis. Por isso, se você ou alguém da sua equipe está manifestando um ou mais dos sintomas listados acima – sinais clássicos da Síndrome de Esgotamento Profissional (ou Síndrome de Burnout) - pode ser a hora de ligar o sinal de alerta.
De acordo com o glossário virtual “Saúde de A a Z”, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout é um distúrbio mental causado por situações desgastantes de trabalho que exijam uma carga de responsabilidade ou um volume de atribuições que estão além dos limites que o profissional está emocionalmente disposto a suportar. Outra causa comum pode ser o próprio ambiente de trabalho onde existam tensão e muita competitividade.
No cotidiano de um mercado competitivo como o das grandes corporações, casos de estresse pelo esgotamento costumam ganhar mais evidência, entretanto essa realidade pode ser vivida em qualquer ambiente: em pequenas empresas, em empresas familiares, no serviço público e até mesmo no trabalho autônomo. Ao passo que lidamos diariamente com diversos tipos de pressão, como concorrência, mudanças estratégicas, cumprimento de metas e prazos entre tantos outros elementos, buscamos afirmação da nossa capacidade que, por sua vez, pode levar a uma obsessão pela produtividade, pela alta performance.
É preciso estimular uma reflexão sobre o cuidado ao nosso bem-estar físico e mental quando se trata da intensidade das cobranças enquanto administrando nossas obrigações e responsabilidades. Quem nunca pensou: “estou no meu limite”? Por vezes, quando isso ocorre, é até comum empurrarmos um pouco mais essa linha imaginária e resistir um tempo a mais. Tudo bem que limites podem e devem ser testados, pois é uma forma de crescer e evoluir, mas qual seria o limite do limite? Tornar frequente essa prática é realmente saudável?
A pandemia da Covid-19 e a Síndrome de Burnout
Por causa da pandemia causada pelo vírus da Covid-19, no começo de 2020, fomos desafiados a reconsiderar alguns paradigmas no nosso cotidiano pessoal e profissional. Muito receio e insegurança com relação ao futuro, pois desde o começo era impossível determinar por quanto tempo mais enfrentaríamos a situação. Especialistas tentam ilustrar as consequências da pandemia como o efeito das ondas que crescem exponencialmente. A emergência de saúde mental como consequências da crise sanitária seria uma delas. As causas são diversas, mas focados em esclarecer um pouco mais sobre o aumento dos casos de Síndrome de Burnout durante a pandemia, perguntamos a duas profissionais quais motivos estariam por trás disso.
Para a psicóloga Marcela Leal, do setor de Promoção e Atenção à Saúde do Servidor, da Superintendência do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, “o tempo excessivo de exposição à tela, a falta de previsibilidade do contexto atual, a ameaça à vida, a sobrecarga de atividades (trabalho e cuidados com a casa e crianças, quando é o caso) sem poder contar com uma rede de apoio, restrições às atividades de lazer e interações interpessoais que proporcionam bem-estar, dificuldade em encontrar um espaço individual (no caso daqueles que moram com outras pessoas) e a dificuldade de separar o trabalho da vida pessoal (com o adentrar do trabalho na casa das pessoas por meio do home office) são alguns dos aspectos que têm contribuído para esse aumento, não só da Síndrome de Burnout, mas dos quadros de depressão, ansiedade, dentre outros transtornos mentais.”
Já a psicóloga Junia Mamedir destaca que “as manifestações físicas não cuidadas, que antes pareciam consequências de um estresse decorrente do ritmo de trabalho, são agravadas pois, no contexto da pandemia, as alternativas disponíveis para o corpo liberar o estresse ficaram limitadas enquanto os profissionais precisam continuar gerando resultados.”
Por vivermos em um mundo cada vez mais acelerado, nos sentimos na obrigação de acompanhar essa velocidade, mas também precisamos aceitar o fato de que nosso corpo e nossa mente cansam e é normal nos sentirmos sobrecarregados, mesmo quando reconhecemos que estamos aquém da nossa capacidade “normal”, pois essa linha imaginária pode oscilar constantemente, e apesar de não sermos máquinas programáveis, também “pifamos” e regularmente precisamos de um período de “recarga”.
É essencial ter um momento para si mesmo, diminuir ritmo ou se dar um intervalo. Respire. Recupere o fôlego. Talvez seja hora de acolher os próprios sentimentos - não renegar ou ignorá-los. Exteriorizar, compartilhar com alguém. Chorar, se sentir vontade. Pedir ajuda profissional (o Disque Saúde 136, do Ministério da Saúde, é um dos possíveis canais de orientação a serviços de saúde). Acolher-se é entender que está tudo bem se em algum momento não for possível dar conta de tudo que está em nossas mãos, seja com relação ao trabalho, à alimentação, às atividades físicas, etc. e que está tudo bem se as coisas não estão saindo conforme foram planejadas. Sentimentos como raiva, tristeza ou desânimo são legítimos e justos, e podem ser amenizados a partir de olhar mais afetuoso, começando internamente. Cada um tem o seu tempo.

"As alternativas disponíveis para o corpo liberar o estresse ficaram limitadas enquanto os profissionais precisam continuar gerando resultados", diz a psicóloga Junia Mamendir, sobre o contexto da pandemia da COVID-19
A experiência no CCMS
Aqui no Centro Cultural do Ministério da Saúde (CCMS), cada membro da equipe também teve momentos difíceis ao longo desse último ano. Quem não teve!? Pandemia, confinamento, adaptação temporária para o teletrabalho, nova rotina, projetos prejudicados, sentimentos construídos e desconstruídos, entre tantas coisas que muitas outras pessoas passaram ou ainda estão passando, de forma semelhante. Houve dias em que o trabalho não rendeu como gostaríamos, e a mudança de ritmo foi compreendida por todos com tranquilidade e respeito, e recebemos bastante apoio e acolhimento entre nós e também por parte da nossa Coordenação.
Apesar da empatia de todos da equipe ser um diferencial positivo, no mundo atual, mais do que nunca, precisamos nos conhecer. A busca pelo autoconhecimento é fundamental para descobrirmos nossas angustias, nossos conflitos e trabalhar essas emoções. E em decorrência desse autoconhecimento, vem o autocuidado, saber seus limites, o que te faz bem, o que você está precisando naquele momento, faz toda a diferença para o nosso dia a dia. Precisamos trabalhar em prol do não adoecimento mental das pessoas, porém isso nada tem a ver com sermos obrigados uma fortaleza inabalável frente a tudo, ao contrário, tem a ver inclusive com a aceitação e entendimento de que alguns momentos e acontecimentos trazem abalos e emoções que nos remetem a pensamentos incômodos e desagradáveis, mas é preciso entender que todas as emoções são importantes e valiosas para nós, inclusive tem função adaptativa, negar o direito a elas é fazer adoecer. Precisamos de equilíbrio. Precisamos de acolhimento.
REFERÊNCIAS
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/saude-de-a-a-z-1
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/disque_saude_136.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3427-saude-mental-e-a-pandemi...
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/sindrome-de-burnout...
https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-55618052
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/09/4873616-a-quarta-on...
https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/a-saude-mental-nao-sera-a-quarta-...
https://noticias.r7.com/saude/apos-1-ano-de-pandemia-sindrome-de-burnout...
IMAGENS
https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-borrao-mancha-nevoa-6632863/
https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-esgotamento-combustao-burnout-6...