por André Ricardo Souza
Com base na minha prática fotográfica, reuno aqui dez dicas bem amplas, algumas delas mais gerais de composição e outras mais específicas quanto ao uso de smartphones como câmeras, modalidade esta, já dominante nos tempos atuais e digna de nota.
1. Higiene em primeiro lugar
É comum que as pessoas armazenem seus smartphones em algum bolso de suas roupas, ocasionalmente pode-se também tocar a lente com a mão sem se dar conta. Outra situação comum é aquela que o aparelho permanece disposto sobre alguma superfície podendo manter a lente em contato com sujeira ou poeira. Diferente de boa parte das câmeras, as lentes dos smartphones não costumam ter protetor, então, todas essas situações acabam levando ao acúmulo de resíduos na superfície da lente. Assim, antes de fotografar com o celular, o melhor a fazer é limpar a lente. Isso melhora consideravelmente a qualidade das imagens produzidas. Para fazer essa limpeza existem panos específicos, mas na ausência de algo assim, recomenda-se usar algum pano de microfibra e, em último caso, a própria camiseta ou algum pano limpo que esteja à mão. É interessante dobrar o pano na ponta em formato de triângulo para obter maior precisão. A limpeza deve ser realizada com cuidado a fim de não danificar o aparelho, nada de pressionar com força. Esse procedimento apesar de básico nem sempre recebe a devida atenção e faz toda diferença na qualidade das imagens produzidas.
2. Um toque de foco
Muitas pessoas, acostumadas aos automatismos da fotografia realizada em smartphones, se esquecem que o foco automático proporcionado pelo aparelho dispõe opcionalmente de um ajuste mínimo que ajuda muito o aparelho à compreender a situação, esse ajuste é feito geralmente tocando-se a tela no ponto da imagem onde se quer o foco. Ao clicar na tela sobre uma determinada área da imagem a ser registrada o aparelho também costuma fazer a medição da luz necessária para ajustar a sensibilidade e, no processo automatizado do aparelho, essa área específica da imagem que foi apontada, será a área privilegiada quanto ao foco e a iluminação, portanto, antes de clicar para o disparo da foto é preciso tocar na tela para obter uma garantia extra sobre o foco.
3. Fotografia tem assunto
Assim como um texto toda fotografia aborda um assunto, ela comunica algo. Também conforme um texto, a imagem fotográfica pode abordar mais de um assunto, mas geralmente há sempre um assunto principal a ser abordado. O assunto fotográfico, normalmente, é referido a partir de um objeto ou cena em destaque na imagem. Esse objeto ou cena é ressaltado pela importância que ele ocupa dentro da imagem. Assim, deve-se ter atenção para o que se quer destacar como assunto principal em uma foto. O cuidado está em não incluir na imagem algo que roube a atenção sobre aquilo que se quer destacar. Se o destaque for a arquitetura de uma construção, então cuidado com os elementos que estão concorrendo com ela presentes no seu enquadramento. Muitas vezes a opção de se fotografar em preto e branco surge justamente da necessidade de evitar que cores fortes presentes num determinado enquadramento roubem o destaque que deveria ser dado à outra coisa, como às formas, por exemplo. Se o destaque é uma paisagem, talvez não seja interessante incluir pessoas na foto. A presença de um ser vivo em uma fotografia tende a situá-lo como destaque em relação aos demais elementos, assim uma boa dica para se expressar bem através de imagens é compor imagens que incluam apenas aquilo que é necessário para passar a ideia que se quer na imagem e evitar a presença daquilo que compete com o assunto que você quer destacar. Tenha um assunto principal em mente e procure simplificar sua imagem incluindo apenas o necessário para o que deseja expressar em sua fotografia.
4. Tire a cabeça do meio
Ao retratar alguém, de corpo inteiro ou meio corpo, é muito comum aos iniciantes na fotografia colocarem a cabeça da pessoa a ser fotografada bem no centro da imagem, como se estivessem mirando bem na cabeça. Fazer isso costuma não ser uma boa ideia, pois a cabeça da pessoa é a extremidade da porção superior do seu corpo, isso significa que há corpo a ser fotografado para baixo mas não há corpo a ser fotografado para cima da cabeça, o resultado será sempre uma sobra desproporcional de imagem acima da pessoa, gerando uma composição desequilibrada. A excessão à essa regra seria o objetivo de querer mostrar algo relevante que esteja logo acima da pessoa numa cena, mas via de regra, a cabeça no meio da foto não costuma ser um bom lugar.
5. O que está nas margens interessa
Outra dica é a de que todo enquadramento fotográfico pressupõe delimitar as margens daquilo que se está enquadrando, portanto tudo que aparece nas margens superior, inferior e laterais das imagens interessam. Deve-se ter uma especial atenção para evitar objetos e pessoas que eventualmente sejam cortados de modo muito desagradável nas bordas da imagem. Geralmente movendo-se o enquadramento um pouco mais para a esquerda ou para a direita, ou ainda, se distanciando um pouco, ou se aproximando um pouco daquilo que vai ser registrado, resolve-se isso. Em uma proposta mais artística, alguns fotógrafos tomam liberdade para cortes mais duros e ousados nas margens de suas fotos, cortando mesmo rostos ou objetos ao meio, podendo, inclusive, eliminar cabeças bem nas margens da foto e coisas estranhas assim. Perceba entretanto que para fazer esse tipo de corte muito ousado é necessário ter bastante experiência com composição pra saber compensar isso no equilíbrio geral da imagem e, principalmente, ter uma intenção muito bem delimitada em promover um corte que normalmente poderia ser interpretado apenas como mal enquadrado na ausência de um discurso ou ideia que o justifique.
6. A luz é tudo numa imagem
Sabe aquele retrato que ficou péssimo porque uma sombra do nariz se projetou no rosto? Pois é, a responsável foi a direção da luz. A fonte de luz é uma das coisas mais importantes na fotografia. Quando a principal fonte de luz que estamos utilizando é o sol, o horário conta muito no resultado da imagem, porque é a direção do sol que irá ser responsável pela projeção de sombras e a dureza da luz. Retratos realizados à luz direta do sol, quando ele está bem alto, sempre estarão sujeitos à essa sombra do nariz se projetar no rosto. Então, se você quer belos retratos à luz do sol deve fazer isso no início da manhã ou ao final da tarde, que é quando o sol está baixo e favorável. Mas atenção: a direção da luz é o que importa. Se a câmera estiver posicionada contra o sol, qualquer assunto ficará completamente escuro. Assim, para produzir uma imagem bem iluminada é necessário que o sol esteja atrás do fotógrafo para iluminar o objeto para o qual ele esteja apontando a câmera. Existe também, na maioria dos smartphones, o recurso de flash, ele pode ajudar gerando uma luz artificial quando não dispomos de luz suficiente direcionada para fotografar algo, mas os flashes são limitados em distância, normalmente, só funcionam para algo que está bem próximo. Durante a noite, ainda que você disponha do recurso do flash, procure estar atento e aproveitar ao máximo a direção da luz artificial (se houver alguma) do ambiente em que você se encontra. Às vezes, fotografando pessoas à noite, basta mudar a posição delas em relação à alguma fonte de luz ambiente para que as fotos saiam bem melhores e mais iluminadas.
7. Outra pegada é saber pegar
Uma desvantagem do smartphone em relação às outras câmeras é que ele não é muito ergonômico para se segurar e por isso, pode cair facilmente da mão, quando não, por segurar a câmera com uma só mão, gerar instabilidade e produzir fotos tremidas. Existem acessórios que podem ser adquiridos no intuito de melhorar a ergonomia do smartphone, como suportes instalados nas costas do aparelho, cases fotográficos com encaixe para as mãos e alças de segurança acopláveis; na ausência desses equipamentos, a dica é ficar atento ao seguinte detalhe: geralmente quando temos pouca luz no ambiente é previsível que o aparelho se ajustará automaticamente para realizar uma fotografia com um tempo maior de exposição, então, principalmente nesses casos, deve-se buscar redobrar a segurança e pegar o smartphone com maior firmeza, se possível com as duas mãos, assim pode-se evitar que a foto saia tremida. Quanto à segurança do aparelho, para evitar que ele caia da sua mão, não há truque, se não for utilizar um dos acessórios citados, o aconselhável ainda é utilizar uma boa capa de proteção e película na tela.
8. Explore mais pontos de vista
A leveza e tamanho compacto dos smartphones permitem muita praticidade, de tal modo que é possível posicioná-los em locais onde uma outra câmera muitas vezes não poderia. Isso abre uma nova possibilidade de perspectivas, de novos pontos de vista para seu smartphone, permitindo a exploração de ângulos inusitados e experimentações diversas. Imagine, por exemplo, tirar uma fotografia de dentro da cabine de um aeromodelo em vôo, ou poder atravessar sua mão, segurando um smartphone, por uma grade pela qual uma câmera maior não passaria, fotografar dentro de um ducto estreito, ou simplesmente tirar uma foto de um ponto muito mais alto apenas elevando o braço empunhando o smartphone para cima (com uma câmera pesada isso poderia ser bem mais complicado). O fato é que pontos de vista diferentes geram fotos diferentes e essa é mais uma bela dica de composição. A criatividade é o limite.
9. Estenda possibilidades
Outra dica pra se estimular a criatividade diz respeito ao fato de que para todas as câmeras fotográficas profissionais estão disponíveis uma gama enorme de equipamentos externos como tripés, rebatedores de luz, controle remoto, diferentes tipos de lentes e acessórios diversos. No caso dos smartphones o mesmo ocorre. Tanto podem ser acoplados equipamentos para suprir uma iluminação profissional como também podem ser adicionadas lentes sobre a lente do aparelho e existem diversos produtos deste tipo voltados para smartphones. Mas a dica legal é explorar lentes ou objetos que funcionem sobre a lente do smartphone, ampliando algumas característica ópticas limitadas do aparelho. Um truque muito usado, porém mais adequado para aparelhos que tem resistência mínima à água, é dispor de uma gota de água sobre a lente do smartphone. Essa gota poderá funcionar como uma lente macro, possibilitando fotografar muito mais de perto detalhes microscópicos. Além do truque da gota, outros truques podem ser pensados, que vão desde a utilização de lupas sobre a lente, até o uso de papel transparente colorido sobre a mesma, que funcionaria nesse caso como um filtro colorido. Paus de selfie, tripés e cases a prova d’água também são outros recursos que podemos lançar mão para fazer uma boa fotografia com smatphones. Estender os limites do aparelho pode também aumentar nossas possibilidades criativas com ele.
10. Usufrua do arsenal tecnológico
Pra finalizar, é interessante ressaltar algumas das muitas vantagens de se fotografar com um smartphone: ele é leve, super compacto, está sempre à mão, é discreto e os mais modernos dispõem de ótimos sensores e novas tecnologias que vem elevando a qualidade das fotos produzidas para novos patamares. Mas talvez a maior vantagem dos smartphones em relação às demais câmeras é que eles, além de câmera, também permitem editar suas fotos e ainda publicá-las em diferentes meios, ou encaminhá-las direto para impressão. Dispõe também da possibilidade de backups automáticos em sistemas de nuvens para que você nunca perca suas fotos. Isso porque o smartphone é uma coleção de aplicativos com uma imensa gama de aplicações diversas. A dica aqui é não se limitar à utilizar apenas o aplicativo de câmera que vem pré instalado nele e buscar extrair o máximo que o aparelho oferece. Do ponto de vista da câmera em si, os aplicativos funcionam como uma grande diversidade de câmeras no mesmo aparelho. Assim, para aqueles que dispõem de um conhecimento mais avançado de fotografia, há possibilidades de aplicativos que permitem, inclusive, o ajuste manual dos controles de uma câmera, como abertura, tempo de exposição e controle de ISO, além de recursos como dupla exposição, visão noturna e ainda aplicativos para técnicas específicas como lightpaint, fotografia panorâmica, fotografia imersiva de 360º, lomografia, fotografia lofi, câmeras com efeitos artísticos, simuladores de algumas câmeras consagradas e muito mais. Tudo isso sem citar os recurso avançados de edição e os também voltados para produção e edição de vídeos. As possibilidades que os aplicativos oferecem são tantas que se você não souber utilizar nenhum desses recursos, você pode, através do próprio smartphone, acessar videos na internet com diversos tutoriais para aprender a utilizar vários desses recursos. Não deixe de sempre experimentar diferentes aplicativos, pois regularmente surgem novidades que podem enriquecer seu arsenal fotográfico.
Sobre o autor do texto:
André Ricardo Souza
Artista Visual em Florianópolis, SC.
Mestre em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina.
Professor em Câmera Criativa Escola Catarinense de Arte e Fotografia.