Museu de Imagens do Inconsciente
O Legado de uma Vida
Arqueologia da psique
No dia 14 de junho de 1957 a Dra. Nise da Silveira foi recebida por C. G. Jung, na sua residência de Kusnacht (Suiça). Sentada diante do mestre, falou-lhe do desejo de aprofundar seu trabalho no hospital psiquiátrico, de suas dificuldades de autodidata.
Ele a ouviu atento e perguntou-lhe:
- Você estuda mitologia?
- Não, respondeu Nise.
- Pois se você não conhecer mitologia nunca entenderá os delírios de seus doentes, nem penetrará na significação das imagens que eles desenhem ou pintem.
Os mitos são manifestações originais da estrutura básica da psique. Por isso seu estudo deveria ser matéria fundamental para a prática psiquiátrica.
De volta ao hospital de Engenho de Dentro, para sua grande surpresa, Dra. Nise defrontou-se logo com o caso clínico de uma mulher que estava revivendo o tema mítico de Dafne.
O tema mítico de Dafne
Apolo apaixona-se pela ninfa Dafne, filha do Rio Ladão e da Mãe Terra. Ela se esquiva, mas o deus não aceita ser recusado. Apolo persegue Dafne. Fugindo sempre, a ninfa busca refúgio junto de sua mãe, a terra, que a acolhe e a metamorfoseia em vegetal.
O mito de Dafne exemplifica a condição da filha que se identifica tão estreitamente com a mãe, a ponto dos próprios instintos não lograrem desenvolver-se.
Por estranho que pareça, Adelina Gomes, modesta mestiça do interior do Estado do Rio, reviveu o mito da ninfa grega Dafne. Numa situação conflitiva, ela se rendeu e disse: "Eu queria ser flor".
A partir daí, a Dra. Nise verificou pela experiência o quanto Jung tinha razão.
A mitologia não era estudo para diletantismo de eruditos. Era uma instrumento de trabalho de uso cotidiano indispensável na prática da psiquiatria.
Óleo sobre papel, 1961

O tema mítico de Mithra
Lápis cera sobre papel, 1975
No último período da vida de Carlos Pertuis, suas pinturas giraram cada vez mais em torno do tema mítico do Sol. Ressaltam, entre essas imagens, figuras masculinas de grandes proporções providas de coroas e outros atributos divinos bastante próximos de descrições de Mithra, deus indo-persa, dadas por seus adeptos.
Segundo narra o mito, foi Mithra quem instituiu o Sol governador do mundo, entregando-lhe o globo, símbolo de poder que ele próprio trazia na mão direita desde o instante de seu nascimento. Mithra é um deus solar e herói, cujo mito narra a dolorosa procura da consciência que o homem de todos os tempos vem representando sob mil faces.

O tema mítico do Dragão-Baleia

Óleo sobre papel, 1967
Quando, sob o impacto de afetos intensos, o inconsciente se reativa em proporções extraordinárias, ameaçando submergir o ego consciente, não é raro que se configurem monstros nas matizes arquetípicas de onde têm emergido figuras semelhantes no curso de milênios.
O tema do dragão-baleia é uma das mais antigas e universais variações do mito do herói. Em vez de percorrer longas extensões da terra em busca de aventuras, aqui o herói é devorado pelo monstro. O drama do encontro com o monstro exprime a situação perigosa para o indivíduo de ser tragado pelo inconsciente.
O tema mítico de Dionísos
Óleo sobre papel
Nos profundos e intrincados labirintos da psique vivem ainda os deuses pagãos. Dois mil anos de cristianismo representam apenas a superfície. Pesquisas arqueológicas e pesquisas psicológicas são trabalhos paralelos feitos em áreas diferentes. Dionísos manifesta-se em nítidas imagens sob múltiplos aspectos de sua natureza dual, jovem e velho, bissexuado, animalesco, orgiástico, frenético, o inventor do vinho, dom deste deus aos homens para ajudá-los a provar, embora fugazmente, a euforia da embriaguez e até mesmo o êxtase religioso.
