Octávio Ignácio
Sem data (55 x 36 cm)
Nasceu em 1916, no estado de Minas Gerais. Instrução primária, operário serralheiro, casado. Teve um filho.
Sua primeira internação ocorreu em 1950. Seguiram-se onze reinternações. Passou então a frequentar o ateliê de pintura do Museu em regime de externato, a partir de 1966. Depois que começou com atividades de desenho e pintura houve uma única internação.
O problema crucial de Octávio é o conflito entre os opostos básicos masculino/feminino, onde intensos desejos irrompem. Sob a pressão do violento conflito a psique cindiu-se. Cindiu-se mas não se anulou. O dinamismo das forças inconscientes é constante - instintivamente desenvolve-se um processo no sentido de promover reconciliação entre os opostos masculino/feminino em guerra.
Octávio era uma pessoa muito inteligente e que elaborava pensamentos e idéias com grande poder de síntese.
"A esquizofrenia consiste numa doença em que o coração fica sofrendo mais que os outros órgãos. Então ele fica maior e estoura."
Octávio Ignácio
Freqüentou o ateliê até sua morte em 1980.
No caso de Octávio a supremacia do feminino não é aceita, ao contrário do que aconteceu no famoso caso Schreber, estudado por Freud. Raramente Octávio se rende. Sente-se ameaçado, percebe dentro de si mesmo a força do feminino, mas apesar disso luta para que o princípio masculino não seja completamente vencido.
O conflito masculino/feminino, demasiado sofrido, será expresso no símbolo da crucificação. A figura humana de perfil, com características masculinas e femininas, está crucificada. É o suplício daquele que está distendido entre opostos e tenta uni-los numa figura de hermafrodita.
1969 (55 x 36,5 cm)
O processo psíquico desenvolve seu dinamismo por intermédio da criação de imagens simbólicas. Jung diz que "o símbolo é o mecanismo psicológico que transforma energia". Assim, a objetivação de imagens simbólicas no desenho ou na pintura poderá promover transferências de energia de um nível para outro nível psíquico. A imagem não é algo estático. Ela é viva, atuante e possui mesmo eficácia curativa. As notáveis melhoras clínicas de Octávio comprovam essa afirmação.
O cavalo passa à condição de bípede. Possui asas, simbolizando como Pégaso "o poder ascensional das forças naturais, a capacidade inata de espiritualização e a inversão do mal em bem". Empunha uma lâmpada, símbolo da consciência que aspira a lançar luz sobre os movimentos que se desenvolvem na obscuridade do inconsciente. Talvez não propriamente a luz da razão, mas a da intuição, capaz de tornar perceptíveis esses movimentos interiores.
Estas sequências de imagens revelam a presença ativa de forças psíquicas reorganizadoras, autocurativas.
Sem data (55 x 36 cm)