Isaac Liberato
1961 (32 x 19,5 cm)
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1906, filho único de um velho e rico negociante. Viveu isolado até os oito anos, longe do convívio com outras crianças. Aos nove anos perdeu o pai, ficando sob os cuidados da mãe.
Aos dezenove anos, realizando um sonho de menino, ingressou na Marinha Mercante como radiotelegrafista, fazendo inúmeras viagens nas rotas internacionais. No intervalo dessas viagens namorou uma vizinha loura e bonita, que não era aceita por sua mãe. Em 1930, casou-se com esta jovem. Três meses após o casamento rompe com a esposa. Em dezembro do mesmo ano é internado no Hospital da Praia Vermelha.
Dezesseis anos depois Isaac começou a frequentar o recém-inaugurado ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional. Era sempre o primeiro a chegar e demonstrava grande interesse e prazer em pintar, principalmente telas a óleo. Pintava lentamente e gostava de tocar piano.
A primeira surpresa que sua pintura nos traz é a flagrante diferença entre a sua linguagem verbal e a sua linguagem plástica. Ele raramente constrói proposições - sua linguagem é agramatical e cheia de neologismos. Entretanto, por meio da linguagem plástica narrou sua história de maneira compreensível e concatenada.
Sem data (33 x 48 cm)
Dona Natália, mãe de Isaac, é personagem de maior importância na vida desse homem. Ela conseguiu residir no hospital psiquiátrico para ficar junto do filho. Sua dedicação era comovedora.
Isaac representa seu relacionamento com a mãe usando o simbolismo da árvore. Sem dúvida, um dos mais característicos aspectos do simbolismo da árvore é a representação do materno. A árvore é protetora e nutridora, mas poderá também sufocar o desenvolvimento de outras plantas. É encarnando os aspectos negativos da imagem materna que a árvore se apresenta, de início, na pintura de Isaac.
Ele diz: -"Duas árvores inimigas; uma não deixa a outra crescer".
Todo ser tende a desenvolver suas potencialidades e tornar-se ele mesmo. A árvore isolada, no contexto da vida de Isaac, parece representar seus impulsos para afirmar-se como indivíduo.
1956 (61 x 50 cm)
Intercalada aos temas abordados por Isaac, está constantemente presente a imagem da mulher. Numa longa sequência de pinturas aparece unicamente a mulher, fora de qualquer contexto, como se ele tentasse, pelo estudo das diferentes expressões das imagens, o conhecimento e aprofundamento do enigmático ser feminino. Esse ser que é a um só tempo a mulher amada e a mulher interior, componente intrínseco dele mesmo, encarnação do princípio feminino existente em todo homem (anima).
Em julho de 1966, enquanto pintava uma figura de mulher, foi vitimado por um enfarte do miocárdio, morrendo com o pincel na mão.